21 outubro, 2011

CONTRIBUTO DO JOÃO CHORA

No final dos anos sessenta a Chamusca não seria uma das terras mais desenvolvidas do nosso Ribatejo. Uma sociedade muito estratificada e fechada não permitia grandes avanços estruturais e a vidinha ia correndo calma. A educação pós-primária passava pela admissão ao Liceu ou à Escola Técnica. Quem optava pelo primeiro tinha localmente uma oferta que passava por um colégio, cujos docentes eram de facto os professores da Primária que assim iam assegurando uma melhoria nos seus rendimentos. Aí andei no 1 e 2º anos tendo como colegas os mesmos que tinha conhecido nos quatro anos anteriores. A única diferença - e que diferença! - era a entrada no mundo das turmas mistas. Sem menosprezar a qualidade do ensino, as coisas continuavam de facto a funcionar muito em circuito fechado e a abertura de horizontes - mesmo com uma queda da cadeira que entretanto acontecera algures num forte - era pouco incentivada.
Meu pai, quarta-classe das antigas, percebeu isso e para o Curso Geral - 3º, 4º e 5º - achou que o seu rebento mais novo bem que podia alargar um pouco mais esses horizontes, mesmo que isso significasse continuar os estudos a alguns Kms de distância.
O Externato de S. Paulo foi a solução escolhida. Não às cegas, naturalmente. O meu primo mais velho - Zé Manuel - tinha lá estudado, alguns rapazes cujos nomes andam pelo blog também lá tinham estado e afinal de contas a "base" da carrinha e o Sr. Carneiro e respectiva família já tinha sido na Chamusca. Nessa altura já se tinha deslocalizado para as Fazendas de Almeirim, naturalmente em busca de um mercado mais florescente.
E lá fui. A minha irmã Conceição, a braços com uma secção do 5º ano (e haja quem atire a primeira pedra - eu não) acabou por me acompanhar no primeiro ano dessa aventura que era estar a maior parte da semana fora do ninho materno.
O que fui encontrar em Alpiarça - e eram só 15 Kms ao lado - marcou-me mais do que podia perceber na época mas que agora retrospectivamente consigo racionalizar. Em primeiro lugar a abertura de espírito e a frescura de ideias. Ali falava-se de coisas que eu nunca tinha ouvido e as pessoas pareciam estar de acordo em que cada um podia ter as suas e podia discuti-las. Depois a miscigenação que começava por ser regional e que ia até às "colónias" ou, eufemísticamente, as Províncias Ultramarinas. O conjunto de alunas e alunos da Guiné e Cabo-Verde trazia, mais que o exotismo próprio das suas características físicas, um alargar de conhecimentos e um contacto com realidades distantes. Mesmo que alguns, naturalmente, se fechassem num movimento natural de receio, tanto havia a aprender com gente cujas raízes eram tão diferentes das nossas. Um parêntesis para dar nota do cicerone que num domingo de verão de 1968 me mostrou as instalações do ESP: o Carlos Alberto Barbosa de Andrade (curioso como ainda hoje recordo o seu nome completo), irmão do Fernando Jorge e primo do José Manuel. Quem não os recorda?
Tudo isso formava um caldeirão de experiências em que todos acabávamos por mergulhar, permitindo que se fosse moldando a nossa personalidade. O próprio relacionamento entre géneros era mais aberto e mais próprio dos tempos de mudança que iam acontecendo, apesar de tudo. (E continuo a comparar com a Chamusca).
E academicamente? Apesar de eu pertencer aos tais para quem os três anos foram feitos em quatro - malvada Matemática! - não tenho razão de queixa.
A dª Adília tratava das Românicas - Português e Francês - o Dr. Abel das Germânicas  e a Drª Ivone (acabada de chegar) completava a secção de Letras com a História. Nas Ciências a Matemática era função do Dr. Martins, as Ciências Naturais e Química com a Drª Ilda (outra novidade na casa) e os Desenhos (À vista e Geométrico) com a Drª Maria Helena. Não me recordo a quem pertencia a Geografia. 
A minha turma era, também ela, de primeira escolha - passe a humildade. Se não, vejamos: nas meninas, e sem ordem definida, tinha como colegas a Fernanda Veiga, a Helena Freire de Andrade, a Isabel Fulgêncio, a Ana Isabel (Baié) - filha do Gerente do BPA, a Maria Emília Tomé e a Ermelinda, ambas das Fazendas, a Maria Helena que morava na Lagoalva e a Graciete Soares de Vale de Cavalos que partilhava diariamente comigo a camionete da Ribatejana.
Nos rapazes: Manuel Rocha Carneiro, António Carlos Camelo, Fernando Bernardo, Manuel Mendes, Mário Freilão, António José Pisco, Rui Fernandes(?), Carvalho, Machacaz (mais velho) e por aqui ficam as memórias.
Apesar de estas lembranças me terem vindo à cabeça sem grande dificuldade, curiosamente não tenho comigo qualquer registo fotográfico desses 4 anos de vida intensa. Outros tempos em que essas formas de congelar o tempo estavam mais afastados do nosso dia-a-dia.
Permitam-me, neste texto que já vai longo, que deixe duas notas finais:
- uma para a Dª Adília e simultaneamente para as memórias das outras duas fundadoras. Não deve ter sido fácil a 3 mulheres lançar um projecto daqueles mas ainda bem que tiveram essa coragem:
- uma final e também evocando a sua memória para o Dr. Abel. Tratando-se de filho da terra não deveria ser fácil fazer aí milagres. No meu caso pessoal, a sua influência foi tão forte que marcou a minha escolha do curso superior. O gosto pela língua inglesa que me soube transmitir foi fundamental para escolher Germânicas no 6º e 7º e ir por esse caminho. Nunca lho disse quando tive a possibilidade e bem arrependido fiquei quando soube que já não o poderia fazer. Paz à sua alma.
Para os muitos que se vão reunir um abraço fraterno.
João José Martinho Chora

TEMOS TODOS MUITA PENA DELE NÃO PODER ESTAR PRESENTE NO DIA 29...

1 comentário:

  1. Com os agradecimentos pela publicação das linhas acima, aqui fica a explicação para não poder ir ao Encontro, em boa hora organizado.
    Uma daquelas coincidências que parecem ser impossíveis, aconteceu.
    Numa das minhas actividades extra-emprego, pertenço à Direcção de uma colectividade que este ano completa 75 anos de idade. E imaginem qual foi a data escolhida para a sessão solene da efeméride? Exactamente o dia 29 pelas 11.30 horas, com homenagem aos sócios mais antigos e a que se seguirá um almoço.
    Ora, como a ubiquidade está para além das minhas capacidades, nada a fazer, a não ser desejar que estas iniciativas – ainda que bastante trabalhosas – se possam repetir mais amiúde. E que o blog se mantenha para além do almoço. Por mim, tenho mais lembranças que posso vir a partilhar.
    (E já agora, ninguém tem mesmo nenhuma foto onde eu esteja ?…)

    J. Chora

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